quinta-feira, 8 de setembro de 2011

In-Justiça

São todos réus, menos eu
Devem responder pelo crime
de existir
De existir apenas e tão-somente
pela suposta - que para mim
nada tem de duvidosa - Conspiração
contra a Bondade
A Bondade que era minha e de
todos os bons
E que me foi surrupiada com mãos
finas e macias, arrancada a fórceps
no dia em que nasci, contrabandeada
à luz dos meus dias, diante dos meus
olhos nus

É crime sem perdão, crime que
não está nos anais, que não se
inclui na jurisprudência, que os
doutos estudiosos do direito
insistem em desprezar.

Pelas regras da MINHA justiça,
não posso ser clemente. Será
inútil aos criminosos declararem-se
inocentes, fingirem-se eles mesmos
vítimas poéticas de outros
violadores da Bondade, que por
sua vez, sua infame vez, também
se proclamaram vítimas inocentes.

Em meu julgamento não há
acusação, não há advogados,
nem libelos ou oitivas.
Em meu julgamento não há
absolvição, apenas justiça, mesmo
que poética.